viernes, 29 de agosto de 2008

AS SIGLAS POVEIRAS AS MARCAS, BALIZAS , DIVISAS E ALCUNHAS

AS SIGLAS POVEIRAS

AS MARCAS, BALIZAS , DIVISAS E ALCUNHAS

As Marcas - As marcas são a escrita do poveiro. Têm muita analogia com a escrita Egípcia, porque constituem imagens de objectos . As marcas estão nas redes, nas velas, nos mastros, nos paus de varar, nos lemes, nos bartidoiros, nos boireis,nas talas,nas facas de cortiça, nas mesas, nas cadeiras, em todos os objectos que lhe pertençam, no mar, na praia ou em casa. A marca num objecto equivale ao registo de propriedade. O Poveiro lê essas marcas com a mesma facilidade com que nós procedemos à leitura do alfabeto.Não são marcas organizadas ao capricho de cada um, mas antes simbolismos ou brasões de famílias, que vão ficando por herança de pais para filhos e que só os herdeiros podem usar. Cada família tem a sua marca própria, passando através dos tempos com a mesma galhardia de todas as outras tradições poveiras.

Regras usadas pelos descendentes - O Chefe usa a marca brasão; o filho mais velho põe-lhe ao lado um pique; o outro a seguir, dois piques; o outro três piques e assim sucessivamente até ao filho mais novo, que volta a usar a marca de família, porque é o seu legítimo herdeiro.Os piques são agrupados de forma diferente. Umas vezes alinhados, outras formam cruzes e estrelas, outras vezes grades. As grades, estrelas e cruzes servem também de brazões, quando por si só constituem a marca, ou quando se encontram rodeadas dos piques representativos dos vários descendentes.Como nas sucessivas descendências se tornariam as marcas confusas, devido ao constante alinhar, cruzar e gradar dos piques, no geral, à terceira geração adoptam o brasão principal com a cruz, grade ou estrela com que o avô se distinguiu na família, ou buscam, para juntar áquele, o brasão da marca dos avós maternos.

Alguns exemplos:

13- Os Micharros - Meia pena e pé de galinha

14- Os Penedas - Sarilho com pique na ponta de baixo e estrela

15 - Os Penedas - Estrela, dois piques e cruz

16- Os Moucos - Duas estrelas e coice

17- Os Bentas e Tamancas - Calix fechado com pique ao centro e cruz

18- Os Bragas - Calix aberto e coice

19- Os Duartes - Coice,cruz e coice

20- Os Turras - estrela, meio arpão e cruz no rabo do arpão

21- Os Izambas - Calix aberto emborcado com pique na borda

22- Os Negrinhos - Calhorda com pique a meio e lanchinha

23- Os Bôtos - Cruz, lanchinha e cruz

24- Os Reixas - Estrela de rabo com 3 meios piques no rabo e grade de 4 piques

25- Os Padeiras ( Marques ) - Lanchinha e coice

26- Os Padeiras ( Santos ) - Sarilho

27- Os Ferras - Lanchinha a prumo e pique à ré

28- Os Patriças - Cruz, dois piques e um por riba e cruz

29- Os Tabojos - Caliz aberto com piques no bôrdo

30- Os Juliões,Beiças e Melões - ( a mesma família) Arpão e cruz no rabo.

O Poveiro ao casar-se, registava a sua marca na mesa da sacristia, gravando-a com a faca que lhe servia para aparar a cortiça das redes.

Os vendeiros analfabetos serviam-se das marcas para saberem de quem era a conta fiada. Antes das rodelas e riscos com que designavam os vinténs e tostões, pintavam a marca do devedor.

Nas suas arribadas à costa Norte, gravavam as suas marcas nas portas das capelas para registarem a sua passagem. Nos mosteiros ou capelas onde fosse cumprir uma promessa, várias vezes em nome colectivo, isto é, da companha, gravavam nas portas dos templos, nas mesas da sacristia, nas cercaduras de madeira, nos arcos cruzeiros, ficando aí o testemunho perante a grei do cumprimento da sua promessa.

É corrente que os velhos Poveiros analfabetos, em lugar de assinarem em cruz nos documentos públicos, faziam a sua marca, que equivalia à sua assinatura.

AS MARCAS DE PEIXE- Tudo está regulado na comunidade Poveira. Como nas caças dos Lanchões e Rasqueiros o produto de cada rede pertence ao seu proprietário, era necessário que no alar da caça os peixes colhidos fossem marcados para em terra serem entregues às mulheres dos respectivos donos das redes.Estabeleceram-se então, marcas, que não as individuais ou de família, mas da tripulação de cada barco, servindo apenas a cada parceiro durante o tempo em que é tripulante desse barco, pois passando para outro barco, vai tomar conta de outra marca. As Marcas de peixe são pequenos golpes feitos nos peixes em diferentes pontos que salvo, algumas excepções dão o nome à marca.

AS BALIZAS - A baliza é constituída por uma bóia com a forma de tronco de pirâmide quadrangular, de base superior apenas um pouco mais estreita que a inferior e as faces laterais um pouco abauladas, feita com folhas de cortiça pregadas umas ás outras com pinos de madeira. Tem um furo ao centro por onde entra o espiche. Este espiche é um pinheiro novo, destonado apenas, a que o Poveiro dá o nome de vareiro.

As balizas foram durante anos, apenas exclusivas dos Lanchões que delas careciam para demarcar as pontas das suas caças nos respectivos mares.Mais tarde, adoptaram-nas os rasqueiros do Alto, pois também deixavam ficar as rascas no mar. Os barcos da sardinha não adoptaram as balizas porque as caças nunca se deixam no mar, antes a pesca é feita sempre por lanços sucessivos, com a caça amarrada à proa do barco.

Alguns exemplos:

1- Os Joaninhas - Ramo ao cimo do espiche com bandeira por baixo a seguir ao ramo

2- Os Pinheiras - Ramo ao cimo do espiche e chama atravessada

3- Os Pernas - Dois ramos, um para cada lado ao meio do espiche

4- Os Fangueiros - Ramo ao cimo do espiche, cortiça a seguir e ramo para o lado a meio do espiche

5- Os Trunfos (João) - Ramo ao cimo do espiche e ramo no casco

AS DIVISAS - São organizadas com desenhos de peixes, cruzes, cornetas, sanselimões, sarilhos, etc., pintados à proa e à ré do barco, ficando ao centro o nome. servem para marcar a propriedade da embarcação e também para o rapaz da obrigação reconhecer o seu barco, lá muito ao longe, de forma a ter tempo de chamar as mulheres da companha para a praia antes de aquele abicar.

Estas divisas eram originalíssimas em tempos passados, quando os barcos eram crenados e não pintados.Então, estas divisas ou eram feitas pelos calafates ou pelos próprios pescadores na sua grafia, com os respectivos erros ortográficos e desenhos rudimentares, o que lhes conferia um sabor encantador. O pincel (escopeiro ), também era original: um grande pau, tendo na ponta um rodilhão de pele de carneiro com lã, que eles mergulhavam num pote de ferro onde fervia a resina e o breu e que servia para mexer as drogas e para pintar. Os desenhos eram feitos pelo mesmo processo.

Já há vários anos que tudo é pintado, muito moderno, algumas dessas pinturas feitas até com certa arte. De vez em quando lá aparece um erro ortográfico, mas não nasce da velha ingenuidade do pescador, mas apenas da ignorância do pintor. è claro que actuou fortemente nesta mudança, a corrente emigratória do Poveiro para o Brasil, que no regresso trazia novos usos, dando em pintar a sua catraia como fazia à sua chalandra do outro lado do Atlântico, quanto mais não fosse para mostrar que era homem viajado...."brazeleiro". Um factor que actou também, embora em menor escala, para o desaparecimento da crena dos barcos, foi a colónia banhista, na sua convivência com os pescadores - banheiros.

AS ALCUNHAS - Os nomes próprios do Poveiro desaparecem por completo para só prevalecerem as alcunhas. Só a alcunha é conhecida, só por ela se pode dar relação do indivíduo procurado dentro da comunidade. É inutil persistir com o nome próprio, porque muito raramente uma pessoa estranha à classe - e mesmo até nos da classe - consegue dar com o indivíduo que se procura. Muitas mulheres desconheciam até o nome do próprio marido, vendo-se aflitas quando lho exigiam para assentos de casamento, baptizados ou escrituras. O mesmo sucedia com as filhas, que conheciam os pais pelo primeiro nome e a alcunha.

Para se investigar de um Poveiro qual o nome próprio deve-se perguntar: _Qual é o teu nome da Igreja?

Quando os primeiros nomes próprios, os da igreja, são iguais ( do pai e filho), acrescentam no final do nome do filho "Novo", equivalente ao Junior das outras classes. Quando dois filhos têm o primeiro nome igual, um é o ... Grande e o outro o .... Pequeno.

Variam as causas que dão relevo à palavra que vai servir de alcunha. Nalguns casos, os apelidos carinhosos que os pais, padrinhos ou amigos lhes vão atribuindo de pequeninos, noutros de incidentes no mar, com palavras ásperas ou galhofeiras, entre eles, que vêm depois para as conversas e que pegam. Outros de ditos galanteadores de um estranho à classe ao ver uma bonita rapariga pescadeira.

Estas alcunhas serviam também para a defesa da classe contra certas leis ou determinações do Estado, desagradáveis à Comunidade, visto que não era fácil aos agentes de autoridade dar com as pessoas procuradas.


Som de Página : Não venhas tarde de João Nobre / Aníbal Nazaré

Interpretada no orgão por João Vítor

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